30 de abr. de 2014

Um poema feito-mal-feito




Não era você, não era eu
Era só o medo, desespero e qualquer vínculo amoroso que pudesse acontecer
 Não era o nosso passado, nem o nosso presente

Era apenas o nosso futuro que nunca quis chegar
A culpa não foi minha, nem foi sua, foi do mundo, talvez
Ou talvez, sim, a culpa foi sempre minha
Mas como lidar com ela? 
Como enfrentar algo que realmente nunca quis enfrentar? 


São os livros que eu li?
São os amores que nunca coloquei o ponto final necessário
São as ruas que já passei procurando
São as ruas que já passei te procurando
Foram as cidades que já encontrei
Foram as cidades que me perdi.

São os passos errados que dei
São os corpos errados que já encontrei
São os corpos errados que me encontram
São os corpos errados que te encontrei
São os corpos errados que me perdi

O poema mal feito e mal acabo
Não merece graça, e nem aplauso
Merece um silêncio, ou um bocejo
Talvez, é digno de pena.
Talvez, seja o tal do ego
Talvez seja tudo
Talvez seja nada

 O novo não me encanta
O velho me satisfaz
A porta da frente é aquela
E eu não quero voltar.
Ou se quero, isso não importa mais
 
 


24 de abr. de 2014

Camiseta do Nirvana




Minhas teorias são impossíveis, meus dramas mexicanos, meus amores são passageiros, e eu ainda carrego minha vontade enorme de entender as pessoas, e suas teorias. Ainda preciso entender os amores dos outros, a vida dos outros, e suas atitudes. Ainda preciso querer aprender a lidar com outras pessoas, e com outros sentimentos. Ainda preciso criar coragem e não fugir quando alguém diz que está apaixonado por mim. Então, vamos lá, sou uma mulher resolvida, só isso. Fiz as pazes com a minha camiseta do Nirvana, e me senti a pessoa mais completa e rebelde do mundo.

Eu, estudante de agronomia, rodeada de fãs de sertanejo, estava lá de coturno de spike, e minha camiseta velha do Nirvana. Me senti a pessoa mais rebelde de todos os rebeldes que já passaram por lá. Mas ainda assim, me senti tão sozinha e ao mesmo tempo tão cheia de tudo. Cheia de luz, e cheia das pessoas. Totalmente zerada. De amor, de paciência e talvez, até mesmo de fé.

Tento entender tudo a base do Mapa Astral, mas aí, não dá certo. Refaço, faço, faço e refaço. Brinco de horários de nascimento, e descubro porque o bonitinho não quis nada comigo - O signo dele, e o ascendente diz que ele não gosta de criar laços - Ok, se o horóscopo diz, tá falando então. Ele só não gosta de mim porque não gosta de criar laços, e sentimentos. Ele é só uma pessoa leviana. Mas que porra é essa, horóscopo? Choro, escrevo, sinto, choro de novo, e escrevo mais uma vez para você me dizer que é apenas uma pessoa leviana? Ah, vai tomar no cu!

Eu estou ficando ótima em dar perdidos, seja em situação ou nas pessoas. Digo que vou e não vou. Ou se vou, depois apareço em outro canto. Estou ficando ótima em me boicotar e de fazer ceninhas de dramas, mesmo sabendo que já não sinto nada há muito tempo. Mas eu preciso pensar em alguém, né? Preciso encontrar um motivinho só para poder escrever, mesmo que seja a minha camiseta do Nirvana. Aliás, eu espero que Kurt Cobain me perdoe por estar frequentando tantas festas regada de sertanejos.

Estou ficando ótima em sumir comigo. Estou me apagando aos poucos, diminuindo minha personalidade. Desde que conversei seriamente com um garoto, mesmo que eu estivesse tão bêbada, ele me disse coisas tortuosas que talvez, eu nunca venha a esquecer. Reclamou do meu jeito tão intensa, e de tentar adivinhar tudo. Reclamou que sou assim, leviana. Mas eu sou leviana igual a você, meu amor! Eu sou a sua versão feminina, então, não reclame. Talvez, eu seja só uma atriz de merda. Talvez, eu queria comover o mundo mesmo sabendo que não há motivo algum para isso.

Minha camiseta do Nirvana está aqui. Exposta. Do jeito que eu gosto. Eu me encontro nela. Me encontro e me perco porque sei que pelo menos, usando-a, eu posso ser o que sou. Posso ser a louca ou talvez a dramática. Posso ser a adivinha, a intensa, a medrosa sem coração, ou até aquela louca filha da puta que se apaixona dez vezes ao ano. Posso ser o que for, que ainda assim, não estou tão perdida, mas também, se me perder, não quero ser encontrada.

Mas sabe meu amor, não nasci para ser menos, e nem para rejeitar minha camiseta do Nirvana. Não nasci para aceitar amor fraternal, e nem amor aos pedaços. Não nasci para não usar minhas blusas de rock, e nem para deixar de ouvir o que sempre me fez bem. Agora, por favor, me dê licença porque estou passando pela sua vida e prometo que não irei fugir.





19 de abr. de 2014

Para uma avenca partindo - Caio F. Abreu





— Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme de todas essas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando o meu raciocínio? falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei por que todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensando nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existe coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor, pensei sim, não, pensar propriamente não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além de nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, de não sentir medo desse mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa da garganta que falo, é de uma outra, de dentro, entende? por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim dum jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver nascer uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai ser mais possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor, não é? pois isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando numa porção de coisas que queria te dizer depois, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis que precisam ser ditas, não faça essa cara de espanto, elas são realmente terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, se você teria, não sei, disponibilidade suficiente para ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é, eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? ah:
sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente em nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas essas coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ...................................................................................................................................
sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

6 de abr. de 2014

Moço




Moço, olha pra mim.
Como você me vê?
Como eu te vejo?
Cadê você que me entende?
Cadê aquele que eu não quero?
Cadê você dentro do meu mundo?
Cadê seus restos?

Moço, escute minha voz embaralhada
Escute o poema mesmo que não tenha voz
Escute meu coração parando aos poucos
Escute a minha má fé
Escute minha má vontade
Escute meus passos
Me escute saindo da sua vida

Moço, me sinta
Sinta meu peito
Sinta meu beijo
Sinta minha incompreensividade
Sinta meu desespero
Me sinta

Moço, me toque
Toque do jeito que nunca tocou
Toque teus dedos frios entre minhas pernas
Toque tua saudade dentro do meu corpo
Toque sua mão sobre meus ombros
Toque, me sinta, me veja, me ouça

Moço, não se desespere
Moço, não me esqueça
Mas eu vou embora
Moço, sinta isso
Sinta de novo
E mais uma vez
E pela última vez

Moço, queira me aceitar
Me aceite no seu mundo
Não me empurre para aquele menino de lá
E nem para aquele de cá
Moço, não me entregue assim para os outros
Moço, não faça isso
Moço, deixe de existir
Por favor, moço, me deixe ser

Moço, quando você for embora, não diga adeus
Diga até mais, ou até qualquer dia
Diga que fui feita para você
Ou mesmo que seja mentira, minta para mim isso
Moço, me deixe aqui juntando meus restos
E se quiser ir, vá.
Moço, ah!




"Preciso te lembrar como tu era no início, era um vício de deixar. 
Procuro em tanta gente o espelho teu, não vejo nada.
Tentando ser o que eu não sou mais eu vivi escondido em um mundo que você criou
E nunca mais voltou pra libertar. 
E eu que não tenho aonde chegar, já caminhei tanto pra encontrar
E eu que não tenho como te falar, já escrevi tanto pra cantar
(...)
Mas se você não quiser ouvir, as canções já não me dizem mais nada
Poderiam dizer
Poderiam dizer teu nome
Poderiam dizer você..."

Esteban - Muda


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