27 de dez. de 2013

Laylices da vida




Ano novo e essa ideia farjuta que tudo será diferente, que serão novos amores, e até mesmo novas dores. E se eu não estiver pronta para esse tal ano novo, hein? E se eu não quiser mesmo abandonar tudo e simplesmente começar algo tão novo, tão imaturo e tão sensível? E se eu não chegar até lá? Eu não entendo essa ideia de querer algo novo sendo que você não está preparado para isso. Você está preparado mesmo para abandonar aquela história? Você está preparado mesmo para gritar que merece um algo novo, sendo que não é capaz de simplesmente seguir em frente? Pois é. São coisas assim que merecem ser refletidas.
Poderia escrever uma lista de coisas que preciso fazer para o ano que vem. E de fato, comecei uma lista que pode até se dizer que tem muitas coisas supérfluas, mas que ainda assim, tenho essa ideia que preciso ter. Li novamente a lista e sei que não vou cumprir a metade daquilo. Quem eu quero enganar? Eu sou assim, ué. Eu sou assim. Cheia de manias e carências. Cheia de listinhas mentais. Cheia do nada e vazia de tudo.
Então, tudo bem, estou apostando no vermelho esse ano. Não, eu não quero mais uma paixãozinha para minha vida. Então, que tal verde? Não, também não. Mas também, preto não serve. Tem como eu passar a virada do ano pelada? Vai que dessa vez tenho sorte. Vai que né, dessa vez tudo vai ser diferente/você tem que aprender a ser gente - Desculpe, é quase impossível não cantar essa música quando o fim do ano está próximo.
Eu andei pensando que como a vida é passageira. A vida é tão sem graça, se for pra pensar. Você cresce, fica adulto, começa a pagar suas contas, se aposenta e depois morre. E eu não quero viver assim. Eu não quero ser morna e viver para sempre nessa temperatura que não queima mas também não esfria. Não mereço ser assim. Eu, por ser tão impulsiva, não mereço ter uma vida meia boca, um amor meia boca, uma história meia boca. Não cresci para ter que aturar pessoas vazias, e sem nexos. Não cresci para ter que ser legal com todo mundo. E às vezes, ser arrogante e propositalmente fechada no meu mundo, acabam sem querer sendo as melhores qualidades. Tudo bem, não penso muito para falar e sou bastante explosiva. Mas é aquela história, se não quer se molhar, então, ora, que não entre no meu mar. Tratei de achar que mereço um pouco de consideração mesmo que seja pouca. Tratei de achar que mereço um pouco de príncipe encantado e toda aquela fantasia, mesmo não acreditando nada disso. Me tratei e tratei o mundo conforme o meu ponto de vista. Não ultrapassei meus limites mas confesso que, forcei a barra muitas vezes. Não fui contra ao meu sexto sentido e nem a favor da minha insanidade. Me mantive neutra porque foi preciso, mesmo querendo ser queimada pelo tal fogo da vida.
Não gosto de fazer planos porque sei que é o caminho mais curto para me decepcionar. Fiz tantos planos em cima de tantas pessoas. Fiz tantas histórias longas em cima de continhos passageiros. Fiz de tanto amor em cima de puro tesão e conveniência. Que hoje, o melhor é não fazer nada. É só deixar o barquinho correr conforme a maré. É melhor se deixar levar. Deixe-se levar que eu estou me deixando. Vai que um dia, a gente se encontra. Vai que um dia, tudo possa ser mais claro, mais limpo e mais amplo. Deixe-se levar. E se puder, me leve com você.

22 de dez. de 2013

Santa Claus




Querido Papai Noel,

Eu sei, prometi que iria perder uns quilinhos, mas não perdi. Prometi que iria parar de ser idiota, mas não parei. Prometi que iria cair fora dessa história tão sem pé e nem cabeça, e não cai. Prometi muitas coisas e não cumpri 1/3 delas. Sei que fui uma pessoa bêbada, e me meti em incríveis roubadas mas me diverti horrores, sabe? Então, eu não me sinto muito culpada por estar sempre em grandes roubadas, porque sim, eu fui muito feliz quando havia chances para ser feliz, então, eu não quero te pedir muitas coisas. Sei que deveria ter me comportado mais, e ter ficado quieta na maioria das vezes. Sei que deveria ter relevado muita coisa e que não deveria estar escrevendo para alguém que não existe no ápice dos vinte anos, né? Mas foda-se, é tão legal escrever para você. É tão legal poder dizer que cresci. Não sou mais aquela magrela do cabelo liso e castanho que estudava em uma escola de freira. Não sou mais aquela magrela que corria pela casa e nem pelo jardim. Não sou mais aquela menina, entende? E tudo que eu queria era continuar sendo aquela de sempre.
Dizem que eu já fui meiga mas eu não me recordo. Minha mãe diz que era meiga até eu mudar de colégio, mas na verdade é que ninguém sabia que eu sempre fui assim. Nunca gostei muito de receber abraços, e minha mãe também diz que talvez porque não fui muito de abraçar, e às vezes, ela diz que a falta do meu pai, pode ter levado essa consequência, mas eu não sei Papai Noel, não sei. Então, eu queria a paz mundial. Mentira, eu não quero. Eu quero mais amor, sabe? Eu quero ter um pouquinho mais de paciência porque eu sei que sou compreensiva com quem não deveria, então, quero ser compreensiva com todo mundo. Não espero que você me mande um namoradinho que saiba o que está fazendo - sim, exatamente, estou falando de sexo - Não espero porque sei que um dia ele vai chegar, só não sei quando, nem onde, mas um dia, ele vai chegar. Fui muitas vezes passageira e distante mesmo sentindo tudo ao tempo todo. Me senti triste muitas vezes, e isso diminui um pouco a minha culpa, não é? Eu me senti péssima por ter tratado tanta gente mal. Eu preciso que entendam que só trato mal porque tenho medo de chorar mais tarde. Estou tão acostumada em ser um ponto de passagem que é tão difícil permitir que alguém fique. Preciso ir embora antes que tudo cresça e amadureça, entende? Eu não queria ser assim, Papai Noel. Eu nunca quis. Se causei algum mal alguém, peço desculpas. Se eu feri alguém, peço mil perdões. Se eu fui embora da vida de alguém, saiba que fui medrosa e não pude ficar.
Sabe, Papai Noel, eu chorei algumas vezes. Vi a loucura batendo na minha porta praticamente todos os meses, e queria muito que você relevasse meus erros sabendo que todas às vezes que eu errava, também estava me ferindo. Finjo que sou complicada só para poder justificar algo que não há justificativa. Finjo que sou tão passageira, para que ninguém veja o quão profunda realmente sou. Sou leve para que possam me carregar em suas vidas, sabe? Mas eu não queria ser assim, Santa Claus, eu não queria mesmo. Mas sabe, Santa, no começo, era divertido e agora não é mais. Eu me cansei de ser legal, cool e moderninha. Cansei mesmo. Fiquei tão esgotada que acho que mereço centenas de horas para dormir. Mas olhe só, sobrevivi mais um ano. Palmas para o destino e para minha força de vontade tão sempre maquiada.
Oh, me desculpe, esqueci dos pedidos. Eu não sei o que eu quero de Natal. Quero mais é descanso, sabe? Um pouco de sossego e uma dose de fé em mim. Preciso acreditar mais em mim, preciso ter mais vontade de vencer. Não quero ser uma daquelas pessoas que se fecham com o tempo. Não quero continuar achando que sou esperta demais e por isso mereço ficar sozinha o tempo todo. Não quero mais gostar de ficar sozinha. Preciso só ter mais fé, um pouquinho de paciência - por mais que eu seja a compreensividade em pessoa - preciso mesmo de muita fé, amor, e sossego. Fé, amor, sossego e paz. A famosa paz interior. A famosa paz.
Santa, eu acredito tanto no amor mesmo tentando evitar. Sei que fujo e disfarço. Sei que vivo de disfarces e me nego a ter encontros com homens legais, dignos de serem amados, mas espero que você me compreenda e não me repreenda. Então, seja como for. Aqui está. Fiz meu papel e estou te escrevendo depois de algum tempo. Como sobrevivi esse ano, certamente estarei aqui o ano que vem.

Obrigada.

Layla




19 de dez. de 2013

Sobre o que estou esperando - Tati Bernardi








Imagine um cookie de Diabo Verde. É horrível de mastigar, quase impossível de digerir, às vezes você vomita pra não morrer e o pacotinho com quatro custa uma fortuna. Isso se chama análise lacaniana.

Numa reunião de psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, fica fácil identificar cada um deles. Os psiquiatras dizem não beber mas, o tempo todo, pedem uma pequena dose de qualquer coisa antes de, com olhos dilatados demais para alguém que não quer parecer bobo, começarem algum discurso científico (e parecem sentir certa vergonha arrogante disfarçada de diploma de medicina), os psicólogos são ternos, encostam nas pessoas e se vestem mal (se forem cognitivos, são os que sorriem o tempo todo e sobram sozinhos na mesa), os psicanalistas freudianos prestam atenção a tudo com um misto de sarcasmo com tristeza mas sabem, no fundo de suas almas, que a tristeza é uma desculpa falsa humilde que deram para poderem continuar sendo sarcásticos. Os lacanianos não foram. Ou, se foram, estão rindo porque os cognitivos sobraram justo na mesa onde eles passaram melecas de nariz.
Tô nessa de Lacan há quase um ano e o único motivo que ainda me leva a degustar desse docinho desentupidor de merda é justamente sentir, por uma das primeiras vezes na vida, a minha merda desentupindo. Ele corrói sem dó mas resolve, tal qual o líquido dos infernos que tenho na minha despensa.
Pra quem não conhece o método, é a psicanálise em seu estado mais cruel (ainda que aqui a palavra cruel esteja mais no sentido de cru do que de crueldade- e não me perguntem o que eu quero dizer com isso porque apenas sinto que é assim e já percebi que quando digo essa frase “só sei que sinto” minha analista se chacoalha inteira no sofá de couro causando um imenso barulho que aprendi a chamar de um lugar no coração da Hitler dos subterfúgios da alegria cerebral). Tem o lance do divã, tem o lance do terapeuta sentar atrás de você (nos meus acessos de precisar de amor eu quase quebro o pescoço em busca de um olhar de aprovação “olha, o que ela está falando é muito bom!"), tem o lance do “não tem panos quentes não, filha de Deus, até porque ele não existe”. E tem também os silêncios terríveis...para os outros, porque eu nunca fiquei em silêncio em toda a minha existência.
Minha meta na vida, desde que desmamei e/ou minha mãe se distraiu dois segundos em me adular sobre todas as coisas, é ser incondicionalmente amada. Para isso, adquiri língua afiada, olhares jocosos e pés prontos para chutar e/ou sair correndo. Resumindo: criei e alimentei tudo em mim para justamente nunca mais ser amada ou ser amada apenas incondicionalmente. O que eu sei que não existe mas continuo sofrendo por não existir. Isso já está identificado desde meus seis anos, quando análise não era pra mim e sim para os filhos de muito ricos que estouravam restos de biribinhas em gatos de marca. Mas eu já sabia. A respeito de mim, eu sempre soube de tudo. Desde sempre. Mas saber não é exatamente desentupir a merda, daí que toda quinta bato cartão (ou ela bate minha carteira, nunca sei) no consultório perfumado e de paredes com isolamento acústico de minha analista. Aliás, isolamento que não funciona: eu sei, por exemplo, que o cara antes de mim se sente culpado porque o filho tira notas ruins e o cara depois de mim sabe, pela cara de pavor com a qual me olha na saída, que eu já aumentei pra dez o número de homens que sonham que estão sem pau quando saem comigo.
A coisa está indo super bem (o que significa que está terrível, insuportável e péssima) até que, nessa última quinta, melhorou ainda mais (o que significa que piorou muito). Quando eu já estava praticamente do lado de fora do seu consultório, chamando o elevador, já me recuperando de meu estado de lixo orgânico, de chorume existencial, ela abriu a porta mais uma vez, olhou pra mim daquele jeito que você só perdoa que uma pessoa te olhe se ela tiver, nitidamente, 20 anos a mais de estudo que você, e me disse “você está esperando o quê?”.
Eu quis responder que era o elevador, mas dada a sua frieza e seriedade, era óbvio que ela se referia à sessão que tinha acabado de acabar. Eu quis responder qualquer coisa, mas ela mandou a bomba e correu sem nem dar tempo do meu desvio de septo voltar pro seu lugar errado. Agora, como dizem por aí, era comigo “mermo”.
Passei a quinta inteira catatônica, tentando adivinhar o que eu deveria fazer para que não esperasse mais o que eu estava esperando. Eu deveria resolver alguma coisa, de certo, mas o quê? Sim, eu deveria parar de esperar, mas para parar de esperar, antes, eu deveria saber o que cazzo eu estava esperando. Que que eu tava esperando?
Passei e repassei a sessão um milhão de vezes na minha mente. Eu tinha falado de tararã, eu tinha falado de tarará, eu tinha falado também que tarará tinha o tararã maior que o do tarararão mas que o tarararão era muito mais tatataratatá que o tararinho. Mas nada disso me deu a pista que eu precisava para saber o que eu esperava até porque, disso tudo o que eu falei, eu não esperava absolutamente nada. Como sempre.
Você está esperando o quê? A voz dela me perseguiu pela sexta também, pela madrugada, pelo sábado. Ah, tantas coisas. Tô esperando ficar rica pra comprar uma casa maior. Tô esperando o último capítulo da novela pra ligar pra Gabi. Tô esperando meu chefe voltar pra pedir um aumento. Tô esperando a grana do freela entrar pra pagar o cartão de crédito. Estou esperando esquentar o tempo pra ir na depilação. Estou esperando os quarenta pra declarar estado de calamidade pública pra minha bunda. Tô esperando a minha vizinha reclamar do Radiohead de novo pra poder reclamar que ela toca tuba as quatro da manhã. Tô esperando a próxima temporada do House. Tô esperando a próxima quinta pra socar você, querida analista.
Quando a mente naufraga pesada demais, vou pro teatrinho infantil que mora lá pelas bandas do meu coração. Encenar minhas sensações pra ver se descubro algo que está difícil de se explicar sem figurinhas. E meu teatrinho infantil me botou em cima de um cavalo branco, com uma varinha de condão. Podia ser uma espada, mas acredito que uma “vara” que transforma o mundo é ainda mais pau que o pau que simplesmente luta, fura e mata, então lá tava eu de varinha mágica, toda me achando a princesinha ainda que a princesinha espere e não aja e eu, como boa pessoa que não deveria esperar por mais nada segundo a minha analista, estivesse agindo. Tá, agora faço o quê? Vou pra onde vestida de besta desse jeito? Eu tenho medo de cavalo, vara com estrela na ponta não me serve de nada. De que me serve meu potencial de macho se ele só me enfraquece? De que me serve a vontade de ir se o lugar não existe? De que me serve, afinal, esse amor?
Amor, é de amor que você fala? É. Tudo em mim respondeu, fazendo o som do recuo já sem forças de uma onda que explodiu na minha cara. Ééééééééééééééééééééé. O uníssono da concordância, como é bonito o equilíbrio único de uma constatação puramente verdadeira. O sopro do que cala fundo inundando, trazendo a resposta para as partes mais esquecidas e longínquas do que somos. Ééééééééééééééééééééééééééé.
Tô esperando o dia que isso vai passar. Isso aqui, que falo descarada e cifradamente, mas sempre. Isso que espalho em cada linha, o tempo todo, o muito peneirado ao longo desses dias todos, soando pouco mas sem parar, nos intervalos dos reais intervalos. Tô esperando acabar, passar, morrer, sangrar até o fim. Esperando o tempo que acalma chamas com seus ventos de mil pés distantes. Esperando alguém que ocupe, distraia, desacorrente, solte, substitua, torne nada demais. Esperando não sentir mais ódio e nem tesão e nem ciúme e nem saudade. Esperando porque é o que resta mesmo, não é falta de coragem, não é de se fazer, é de se sentir e só. Nem sempre a força de um amor é pra sair às ruas, pra viver histórias. No meu caso, sozinha mesmo, preciso ninar esse enjôo de um filho sem pai, esperar que ele nasça morto e enterrá-lo já sem dor. A gravidez do coração dura mais do que deveria e só expulsa seus filhos quando esses já nem existem mais.
Tá, analista dos infernos, eu entendi. Mas você erra quando acha que alguém resolve um amor. O amor é que, se tivermos coragem pra deixar, resolve aos poucos a gente.

11 de dez. de 2013

Palavras



Vivo me trapaceando todos os dias
Busco um novo perfume
Uma nova história
Uma nova pessoa
Mesmo sabendo que há outra pessoa entalada em mim.
Mesmo sabendo que não quero outra história
Nem um novo perfume

Escrevo e penso
Penso e não sinto
Sinto e não penso
Não na mesma ordem
Mas tudo na mesma intensidade
Pensar
Amar
Sentir
Morrer

A morte é tentadora
Ela senta ao meu lado
Me conta histórias tristes
Mas eu não dou moral
Eu não quero dar moral, não agora

O vazio sufoca
O excesso de silêncio me faz engasgar
Eu preciso encontrar uma palavra
Uma palavrinha só
Algo que pudesse traduzir tudo que estou sentido agora

Ego
Acho que é isso
O meu grande problema
Não sei

Assim não poder ser
Eu não quero viver assim
Você não entende?

Não
Você não entende
Você não me sente
Você não vê
Não como eu gostaria

1 de dez. de 2013

Manoel



No começo, Manoel, doeu muito. Doeu de todas as formas que poderia doer em uma pessoa. E você sabe, Manoel, você sabe que eu sou daquelas que sente muito por todo mundo. Eu sinto muito por tudo, por todos. Sinto pelo mendigo que está lá fora e pela pombinha atropelada. Sinto pelo vazio dentro do seu peito, e do meu amor desperdiçado. Sinto por aqueles que não sentem, e por aquele que não sente nem pena de mim. Sinto muito, sabe? E eu sinto muito por ter visto tudo aquilo que não deveria. Sinto muito por mim. Colori personagens, e desfiz sentimentos. Construí frases feitas com efeitos significativos e ignorei o óbvio. E eu sei, Manoel, eu não deveria ter feito isso. Ignorei o mundo porque minha verdade sempre prevalece. Ignorei o destino e todos os avisos celestiais. Você sabe, eu pedi luzes mas como diria aquele bom e velho ditado: As pessoas vêem o que querem realmente ver. E eu apenas vi luzes verdes para que eu pudesse atravessar e seguir, e não deveria ser assim. É uma pena que não te ouvi, Manoel. Aos poucos, me acostumei. Estranho, né? Eu sei que você também deve estar rindo para mim. Na verdade, você deve estar rindo de mim e dizendo "Se fudeu, troxa!" Mas alivia dizer que também estou sofrendo por isso? Alivia dizer que não quero seguir em frente? Eu não quero seguir em frente. Só quero ficar aqui quietinha, para sempre, observando.
A dor é temporária. Doses de vodka são facilmente substituídas pelas dores eternas. Minhas dores tão eternas mas tão passageiras. E são milhares de promessas vazias, e copos solitários durante a noite. Meu corpo clama por descanso e só sei me foder, e foder, e foder com tudo. Com a minha vida, com o meu corpo, e com a minha consciência. Quero tanto parar, Manoel. Quero tanto dizer um basta, mas como eu faço isso? Como posso deixar de lado sabendo que há tantas coisas para dizer? Coisas que jamais são confessadas publicamente, e jamais devem ser registradas. Como posso dizer adeus sendo que quero ficar? Como, Manoel? Preciso de uma luz. E olha, sei que não estou disposta a enxergar luz alguma, já que estou com sono.
Lembro de todos os fatos e de todas as palavras tortuosas. É como se eu pensasse que tudo isso tem algum propósito, mesmo não querendo enxergar qual é o propósito. Certo, foi apenas mais uma dor numa noite caótica. Foi apenas uma cosquinha no ego, mesmo sabendo que tudo está perdido e não há mais caminhos. Não posso voltar, e não devo ficar. Só quero ir em frente mesmo sabendo que daqui alguns anos, acordarei assustada, e querendo ter notícias. Porque sei que é assim, não é Manoel? Sabe, Manoel, dói ser gente. Não consigo pensar em outra palavra sem ser dor. Dor rima com amor, mas só consigo me lembrar de Tédio que não me lembra mais de nada. Peço desculpas por brincar com as palavras, porque eu sei que é complicado querer que eu fique séria e centrada quando esqueço que sou apenas uma mulher assustada.
Queria tanto dizer a verdade, Manoel. Queria que tudo fosse mais claro, mais limpo. Queria tanto poder dizer o que sempre sonhei. Eu sei, Manoel, sei que posso dizer mas são coisas que não deve se ditas, entende? Não há motivo algum para revelar meus segredos. Não há motivo algum para continuar socando essa ponta de faca. E eu só consigo me ver sangrando por continuar assim. Daqui uns dias, Manoel, você vai me chamar de ridícula já que mais uma vez, estarei voltando a etapa inicial. Mais uma noite, eu vou chorar e querer surtar. E aí esqueço de novo, como sempre fiz, como sempre vou fazer. Tenho tantas opções, Manoel. Tantas... Infinitas... E eu posso muito bem escolher, mas finjo que não existe nada e ninguém. Finjo que não sei do que acontece. Tento enganar meu sexto sentido e minha maldita intuição. Finjo que não quero estar. Finjo, e fujo. Fujo todos os dias, e todas as noites. Fujo e não quero mais me encontrar.
Tem algo dentro de mim que continua vivo. Algo dentro de mim que implora por uma saída, por uma solução. Tem algo que pede para que eu volte para a vida que eu estava, para os sonhos que eu tinha. Tem algo que reza para que eu volte chorando para a sua casa e que eu diga que aceito ser leve demais para você. Mas tem algo que implora por vida nova, vida cheia de outras coisas, outros sonhos, outras pessoas. Sou divida por um lado que pede para voltar ao passado, e o outro que implora pelo futuro. E tudo que eu mais queria nesse exato momento é parar. Sabe, ficar quietinha aqui dentro desse quarto escuro. Ficar aqui esperando que tudo se resolva ou que tudo se foda se a minha ajuda. Queria me tornar uma bolha em cima do mar. Queria ser uma bolha que fosse com o vento e de repente, pluft! sumiu.
Sabe, Manoel, eu queria tanto e por querer demais, eu não quero mais nada. Eu queria tanto, desejei tanto, implore tanto em silêncios, que no fim das contas, não quero mais. Espero Manoel, que amanhã, eu não tente me sabotar. Espero do mundo do meu coração que não tente novamente. Espero só para poder dizer que não esperei mesmo sabendo que não há chance alguma. Sabe, Manoel, me deixa dormir aqui com você. Sim, não vou te atrapalhar. Por favor, me abrace e diga que vai ficar tudo bem. Minta isso para mim, por favor. Me abrace e diga que sim, amanhã tudo estará melhor, mesmo sabendo que não, amanhã não vai estar melhor.



26 de nov. de 2013

Eu não quero ser neutra não




Estou tentando viver um dia de cada vez. Nada de expectativa, nada de ilusão, nada de decepção no fim da tarde. Estou tentando ser uma pessoa melhor e querer ficar melhor. Estou tentando me concentrar no hoje, e não no ontem e muito menos no amanhã e isso é um puta de um porre. Quero o mundo. Quero ser engolida pelo mundo e por todos os sentimentos contraditórios do mundo. Que se foda a análise. Que se foda Freud. Que se foda o mundo, porque eu quero é foder a vida. Quero ser engolida pelo meu sentimento exorbitante e pela manhã seguinte, morrer de arrependimento. Nessas idas até você e nessas voltas até aqui, me sinto destruída. Mas amanhã sempre será um novo dia, um novo sonho, um novo temperamento, mas que se foda toda a porra de ser calma, e de viver dopada nos meus próprios medos. Que se foda o vazio existencial. Viver um dia cada vez? Ah, meu cu! Claro que dói ser assim. Dói ser humana demais, insensata demais, e sistemática demais. Feliz mesmo é aquele que não se importa e esta aí, gozando, festejando e fazendo da vida um verdadeiro open bar. No fundo, tenho inveja de gente assim, controladora, e que consegue viver como se não houvesse um carga em seus ombros.
Estou tentando ser esse tipo de pessoa que não se deixa levar por nada e por ninguém mas a maré dos sentimentos exagerados é mais forte do que eu imaginava. No fim do dia, estou aqui, fazendo planos, matando personagens e ressuscitando sentimentos que não sabia nem que existiam. Por mais que eu queria seguir em frente, eu volto todos os dias ao passado. E eu sei que é errado. De novo, Layla? Isso vai te machucar. Não, não pode ser assim. Você não é meu e eu não sou sua mas, posso muito bem fingir que estou equivocada. Você não é meu, nunca foi. E eu não sou sua. Na verdade, eu sou sua pra caralho. Sou sua desde do primeiro dia. Mas infelizmente, meu amor, eu não posso parar minha vida para ficar brincando de não saber o que quero da vida.
Torço para que o dia seja menos porque quero aprender a ser menos. Menos eu. Menos dramática. Menos sua. Menos exageradamente. Torço para que não faça frio e que eu possa correr por aí. Torço para que eu consiga dormir sem pensar e lembrar daquilo que você foi um dia e que já não é mais. Torço para aprender a não ser mais sua. Torço para que amanhã, eu desista da palhaçada de querer viver um dia de cada vez. Todos os dias eu descubro um jeito novo de me iludir, de atropelar tudo, de sentir tudo e de querer ser engolida pelo mundo e pelas suas más intenções. Todos os dias descubro um novo jeito de me machucar e de fugir de caras interessantes. Você não sabe disso, não é? Eu estou tocando na feridinha só para poder escrever e me sinto um monstro por isso, mesmo que eu não seja.
Confesso que fugi de homens interessantes nesse tempo todo. Dei inúmeras voltas e nunca cheguei ao finalmente. Fugi de loiros, morenos, altos e sensuais. Fugi de xaveco, ilusões e bebidas. Fugi e dei milhares de desculpas para homens que são realmente interessantes e eu continuo aqui, dando murro em ponta de faca. Continuo aqui querendo ser tudo ao mesmo tempo. Continuo aqui brincando de ser mulher bem resolvida que não sabe o que faz com esse sentimento. Torço para que essa pontada na cabeça seja um aneurisma. Torço para não morrer até te encontrar novamente. Mas amor, eu não sou neutra. Não quero morrer na temperatura neutra. Quero morrer congelada ou no fogo ardente. Quero ser tudo ou ser nada. Porque estou tentando ser alguém menos. Menos sua. Menos minha. Menos. Me...nos...


Ps: Imagem do tumblr de www.sirlanney.tumblr.com 

25 de nov. de 2013

Serralheria - Tati Bernardi



Eu sabia que isso mais cedo ou mais tarde viria. Vem sempre depois do tô ótima, melhor que nunca. Vem sempre depois do tô aliviada, melhor assim. E então, quando abafa o grito alegre, abaixa o tudo de bom que sou, recolhe a corrida pelo nem é comigo, chega essa notícia insuportável me lembrando que ficamos pra trás. Deixar a dor vir é como receber o jornal de amanhã com notícias velhas. Essa vontade de ir até uma serralheria de bairro, com cortantes apodrecidos, e pedir: serra eu até eu ficar como ele quer? Serra eu? Tem como me fazer do tamanho que não afasta? Tem como me fazer na medida do que encaixa eternamente? Tem como me fazer sem isso dentro, essa coisa que é a única mas que eu, hoje, por causa dessa atração repentina pela anulação, ou sei lá o quê, não quero mais. Posso abrir mão disso que me mantém viva ou pelo menos me trouxe até aqui? Essa coisa mais forte que tudo e que me diz “se eu não obedecer, nem sobra força de amor pra amar, então que acabe”. Tem como tirar essa minha força motriz, ego desgraçado, sopro de mim mesma me empurrando, o que me fez não sucumbir, o que me nina ainda que seja uma babá malvada, o que me acolhe ainda que seja a bruxa mais terrível. Eu quero embarcar no trem fantasma, então me serra até meus medos e certezas virarem pó de construção. As minhas rebarbas que arranham, tem como refilar? Me faz uma bolinha pequena e lisinha, chuta a bolinha, queria ir parar debaixo da sua cama. Submissa eternamente a sua existência sem furos e passagens e bordas pra carregar. Tem como? Tem como eu me cortar inteira pra montar de um jeito que eu jamais me incomode com esse muito desenfreado que você sente pra de repente não sentir mais nada, nem dúvida? Tem como assoviar e andar feliz mesmo sabendo que você corre antes de esgotar, porque tem pouco aí dentro? Ué, mas não era muito mais que tudo? É infinito ou tão pouquinho que você usa tudo de uma vez pra parecer alguém especial? Tem como sobreviver vendo um espelho tão escancarado e que ao mesmo tempo me deforma? Tem como me fazer nascer de novo, de um jeito que eu só queira você e não o que eu sonho com você? Porque agora, de longe, parece tão fácil. Agora, de longe, se desse, pra te ter por minutos, nossa, eu seria tão feliz. Mas semana passada, gritava dentro de mim, se não fosse pra sempre, se não fossem mil minutos, se não fossem os meus minutos, que eu focasse então em tudo de ruim pra me livrar logo do pouco que ofende ou do egoísmo que bate de frente. Compartilho com você, e nem sei como amadureci tão rápido, da certeza da impossibilidade. Mas sinto sozinha o quanto isso me faz amar você ainda mais. Porque se desse, se eu pudesse, se desse mesmo pra te amar, seria amor e ponto final. Não seria essa coisa que a gente, mais uma e pela última vez compartilhando algo, achamos que é amor. Se existisse no mundo, com suas regras terríveis, uma brecha pra roubar no jogo, se existisse um único vão por onde se escapa do óbvio, se desse mesmo pra passar correndo atrás de Deus e pular no abismo do que queremos porque queremos. Eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você. Eu só não consigo, vejam como essa vida é mesmo uma coisa de deixar qualquer um louco, eu só não consigo escolher você da maneira mais fácil e particular, que é tendo você. Que é sendo você. Mas se eu virar, se eu virasse, esse pó de serra, se eu virasse argila, se eu pudesse ser esculpida por você, o que você faria de mim? Eu queria, eu queria triturar o que sou pra ficar quieta e olhar você. Eu queria calar ou matar essa coisa toda que sou e diz disso sem parar, pra só te ver ou ser pra você. Mas se você soubesse, como foi duro, resgatar tudo e colar ao meu modo, nesses mil anos, pra agora, assim, sem eu nem saber, me assoprar por você. Entende? Porque eu te juro, de todas as coisas do mundo, eu só queria olhar pra você. Ainda que andar cega me deixe daquele jeito e ainda que você jamais vá guiar alguém na escuridão. Seu medo de andar no escuro ou ser necessário. E então vem a merda toda. Eu preciso correr pra ficar em pé, e então corro, e corro, e de pé estou. E de pé, agora, olhando tudo. Também não era isso.

23 de nov. de 2013

Gastrite




Chove pouco. Esfria muito.
O tempo muda. O relógio canta.
Você não vem. Eu sei disso.
Elas me avisaram. Meu destino me avisou.
O sexto sentido me alertou. Você não vem mais.
Não há porque esperar e nem desesperar.
O telefone não irá tocar. O sofrimento não vai amenizar.

Minha mão sangra. Dei muito soco em ponta de faca.
Não desisti nenhum momento.
Vi o sangue escorrendo e me marcando.
Vi o teu sangue misturando com o meu.
Vi teu sorriso misturado com o meu.
E o teu corpo junto ao meu.

Não senti saudade. Só gastrite.
Meu estômago doía. Doía dentro. Doía fora.
Doía.
E sangrava lentamente.
E cansava misteriosamente.
Cadê aquele homem que eu havia me apaixonado?
Cadê aquele homem que eu tanto gostava?

Cadê?
Não. Você não é ele.
O outro também não.

Te vi andando na minha frente. Passos largos.
E eu só conseguia pensar:
Você fodeu tudo.
Você fodeu minha vida.
Você fodeu de todas as formas que alguém poderia foder.
Você fodeu o que poderia haver.
Você fodeu. Fodeu.

Eles não são você. E Isso me pesa.
Meu estômago dói.
O recomeço está aí clamando por escolhas.
E eu estou tentando me sentir culpada mas não consigo.
Culpada. Insensata. E insatisfeita.
Não há o que mais dizer sobre.
Não há o que mais sentir.
Não há motivo algum para continuar.

Elas são melhores.
Elas são apenas aquilo.
Eu sou apenas aqui. Lá. Do outro lado.
Eu estou aqui.
Vou ficando, ficando, ficando.
Ficando.
Ficando.
Ficando.

Até um dia aparecer outro. O outro.
Mesmo que não há O outro.
Mesmo que não há outro dia ou outro sonho.
Mesmo que há nada. Nem ninguém.
Nem nada. Nem você.
Nem elas que você prefere.

Só quero aprender a esquecer.
Esquecer você.
Esquecer suas pintas.
Esquecer suas histórias.
Esquecer o vazio.
Esquecer a gastrite.




7 de nov. de 2013

Um não poema sobre ser assim



Não é amor. Não é saudade. Não é nada.
É preciso soltar ou pegar de vez. Não dá para existir sendo meia boca.
Meia vontade. Meia má vontade. Meia aflição.
Não dá para existir sem saber da existência.
Sem querer ser mais para a vida.
Para a sua vida.
Para a minha vida.
Para a nossa vida.
Não dá para não chorar.
Não dá para seguir em frente sem olhar. 
Não dá.
Tentei. Juro.

A intuição bate. Não quero deixar entrar.
A loucura bate. Eu evito.
A solidão bate. Eu a deixo entrar e ainda ofereço café.
O amor entra, senta, e me conta dolorosas estórias.
Estórias tuas. Das tuas meninas. Da tua vida.
Estórias minhas. Da minha vida. Das minha desilusões e cotas diárias de mágoa.

Eu não quero ser de outro.
Eu não quero ser de ninguém. Não quero rimar igual música de Renato Russo.
Não quero. E espero que entenda essa minha fidelidade.
Não há nada mais sexy do que ficar apaixonada por alguém que caga para a minha vida.
Espero que entenda e não evite.

Me sinto em um campo minado. Um passo em falso e eu explodo.
Ou você explode.Ou explodiremos. E partiremos.
Me sinto assim. Triste. Corrosiva. Aflita.
Não sei o que vai vir. Não sei o que vai ficar.

Qual bebida eu quero, moço?
A que me deixe mais bêbada. Pode ser vodka.
Quero mais dose de vodka, por favor.
Vou virar mais um copo. Vou virar só mais uma dose.
Vou sair daqui carregada. Vou só sair. Minha alma vai ficar.
Mais uma dose, moço.
Tá forte mas, eu aguento.
Não me machuque mais. 

Só quero saber recomeçar. Só. 




4 de nov. de 2013

Ressaca




Escrevo com ressaca porque é um dos únicos momentos de sanidade que me resta. Escrevo como se eu estivesse seca por dentro, um vazio, uma crise existencial. Me sinto feliz. Depois de tantos meses na escuridão, ontem, eu tive a certeza mais constrangedora que sou feliz apesar de tudo. Apesar de sangrar excessivamente quando um relacionamento termina. Apesar de querer desistir, sumir, cortar a cabeça alheia. Apesar de sempre falarem que não me dou o valor pra quem realmente merece. Eu sou feliz, apesar dos apesares, eu tô sendo feliz e tô tentando sair da escuridão que criei durante esses longos e estranhos meses.
Escrevo para salvar a minha vida e um pouco da minha história. Escrevo para tentar ser feliz e tentar me conhecer um pouco. Fixo meu olhar no espelho que está na minha frente e é engraçado imaginar que sou fiel a quem não é comigo. Eu sou incrivelmente fiel a algo e alguém que nunca existiu.
Já chorei muito. Absurdamente. Já dormi de tanto chorar e não lembro o mais o motivo das dores, apenas sei que sofri. Minhas dores são tão eternas até amanhã. Minhas dores são de querer morrer até nas próximas horas. Meu amor é eterno até que minha paciência acabe. Meu silêncio é grito desesperado de socorro. Meu silêncio tem motivo. Minha malandragem é jogo. Meu jogo, eu não revelo. Só sei que dói ser como eu sou. Só consigo imaginar o quanto isso é vazio, é sujo e não sei se quero mais. Mas sei que sou absurdamente feliz. Nos primeiros meses, doeu muito, porque eu sabia que o que eu fazia, era algo feio, imoral, e estranho. Depois, foi aliviando com o tempo. E agora, tá cicatrizado. Não há porque esperar o melhor e o pior de alguém que não espera meu melhor e o pior.
Gosto de sentimento reciproco, por isso, eu acho que não sei mereço ficar tão desgastada. Não sei se mereço realmente ficar tão cansada dessa história, e de você. Não sei se mereço e se quero ficar tão exausta de tentar decodificar algo que não sei realmente se é tudo que preciso e quero. Eu gostei muito. Absurdamente. Exageradamente. Mas em segredo. Porque eu só sei ser silenciosa. Eu não gosto do grito. Eu não gosto do barulho. Mas ainda assim, eu gostei muito. Nunca precisei dizer porque não sei esconder, omitir, seguir em frente. Sou virginiana e me dou o direito de ser assim. Me dou o direito de sofrer o tanto que posso para que mais tarde, eu possa seguir em frente. Me dou o direito de surtar, para que depois, eu pegue o controle da situação novamente.
Mas a ressaca tá passando, e a lucidez de que tanto gosto, está acabando. Amanhã, eu estou aqui, jurando amor eterno. Amanhã, eu estou aqui, jurando uma fidelidade que carrego comigo desde o início. Amanhã, eu estou aqui, cansada, esgotada mas tô aqui. Vai que um dia, você acredita em mim. Vai que um dia, você descobre lá no fundo, bem no fundo, que você sempre gostou. Vai que um dia você acredita. Vai que um dia você volta. Vai que você queira ficar aqui. Me abrace antes que o mundo caia. Me abrace antes que eu vá embora. Me queira antes que eu te queira. Me queira antes de eu deixar de te querer. Me abrace e me queira antes que o outro me leve para longe. E isso é te pedir muito? Se isso é realmente te pedir demais, sinto te dizer, mas estou indo embora e até nunca mais. (E você sabe, meu nunca mais, só dura algumas horas, e meu indo embora é até ali e já tô voltando).




Sozinho - Caetano Veloso

"Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ele, de repente, me ganha?"






26 de out. de 2013

Amor não se pede - Tati Bernardi





Se implorar resolvesse, não me importaria. De joelho, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. 
Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridículo ao medo: Pularia pelada de bungee jump.
Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, de qualquer espírito.
Mas amor não se pede, imagine só.
Ei, seu tonto, será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso.
Ei, seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não pode dizer isso.
Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, não, melhor não.
Amor não se pede, é uma pena.
É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira.
É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói sozinho sonhos.
Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: Ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema?
Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei.
Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto.
Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta.
Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar.
Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia.
Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta.
Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem. É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa.
É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida.
É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz.
Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar.
É triste lembrar como eu ria com ele.
Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa?

Ele sabe, ele sabe.

18 de out. de 2013

Não é mais uma história de amor




Não é uma história de amor, nunca foi. Não é uma história sobre um casal bonitinho de filme americano. Não é sobre uma história de um casal que irá se reencontrar no futuro. Não é mais uma história de amor, e sim, de terror. De vazio. De sombras. De silêncio. De saudade exorbitante e cínica. De saudade. Só saudade.
Olhei para o teto do meu quarto e me joguei na cama. Pedi uma luz divina qualquer. Se ele gosta de mim, Deus, me dê uma luz, não precisa ser uma claridade enorme, eu aceito apenas uma pontinha só. E pela ironia do destino, depois de muito tempo de revolta com a minha fé, eu estava pedindo algo para Deus. Não houve luz alguma até porque todas as luzes e as escuridões possíveis já tinham aparecido e desaparecido. Vai Deus, me dê um sinal. Mas não houve sinal alguma. Nenhuma SMS, nenhum aviso no facebook, nenhum aviso celestial, nada, nadinha. E dessa vez, me dei por vencida. Recolhi minhas peças e fui embora dessa história mesmo sabendo que nunca vou embora realmente.
Queria muito dizer o quanto fiquei triste o quanto me deu vontade de chorar, mas primeiro, eu gostaria de agradecer. Graças a você, eu voltei para a vida. Graças a você, conheci pessoas legais, homens interessantes, mulheres chatinhas e estranhas, mas ainda assim, era tudo que eu precisava naquele momento. Graças a você, tentei ser mais bonita, mais bem resolvida, mais mulher e menos menina indefesa do mundo. Graças a você, eu sorri de novo. Conheci outros perfumes, outras rotinas, outras vidas. Graças a você, eu aprendi a separar sexo do amor. A entender as pessoas. A ler mais coisas. A compreender mais a vida e a questionar mais as boas intenções das pessoas. Graças a você, eu quis ser melhor para você, para mim, para o mundo. Graças a você, eu voltei a escrever e isso é tão legal. Graças a você, eu tomei impulso e resolvi que está passando a hora de ir embora daqui. Obrigada, campeão. Lembro quando te vi pela primeira vez e senti todo o peso do mundo no meu estômago. Era uma mistura de medo e libertação. Era como se o mundo estivesse me libertando para ser outra pessoa e eu me sentia tão impura e tão imortal. Lembro que senti minha gastrite atacar e eu quis desaparecer nos teus braços, e quis aparecer no teu mundo. Tudo era muito maior do que eu imaginava, e do que eu esperava. Tudo era bem melhor do que eu pensava então, pronto. Vida, estamos de volta, querida!
Coitada. Coitada de mim e da vida, isso sim.
Você me chamou uma ou duas vezes de amor mas eu fingi que não ouvi. Nosso ego é muito maior que a nossa vontade de sermos de verdade, e eu não sei se você sabe disso. Nosso ego é maior que qualquer sentimento que eu pudesse sentir. O teu ego é muito maior que o meu complexo de inferioridade e das minhas crises existenciais. A pessoa que conhecia cada parte do meu corpo é a mesma que me ignorava nas festas. A pessoa que sabia cada pinta do meu corpo é aquela que passava com a outra menina e do meu lado (e como se não bastasse, ainda pisava no meu sapato novo). A pessoa que sabia que eu não era tão grossa é a mesma que hoje, me fez escrever esse texto. É libertador saber que agora, posso seguir mais uma vez a minha vida sem muito o que reclamar. Mas eu não gosto de pensar que não vou mais me sentir tão livre e tão diferente de tudo aquilo. Lembro das poucas vezes que conversamos seriamente.
Você me disse palavras duras e eu apenas foquei o meu olhar para o vácuo e quis morrer ou chorar ou te dar um soco. Você me disse palavras tortuosas e eu apenas concordei porque não havia mais nada para dizer e nem para chorar. Lembro que me despedi dando lhe um beijo na bochecha e você me olhou com uma cara de que eu havia ficado louca de vez. Eu fui sua. Eu sempre fui sua nesse tempo e não há quem duvide disso. E não há que não concorde. Minha postura curvada e meus olhos distantes era para não atrair homens para perto e se algum chegasse a dizer algo, simplesmente, ignorava e seguia o meu percurso.
É difícil reconstruir uma vida agora. É difícil e trabalhoso apagar teus vestígios no meu mundo. É difícil, trabalhoso e tenho preguiça de reconstruir uma vida agora. Me dá uma dor no peito e algo ruim no meu estômago e eu sei que é por sua culpa, por culpa de suas merdas, por culpa da minha decisão. Antes que seja tarde demais, eu estou indo embora. Antes que seja tarde demais, estou me despedindo de você, do seu mundo tão vazio, e tão superficial. Antes que seja tarde demais, quero me ver livre de toda essa confusão que criei. Antes que seja tarde demais, quero desistir dessa relação, que somente eu, vi futuro. Antes que seja tarde demais, quero ir embora antes que você vá.
Por mais que seja difícil, por mais que eu queira desistir de tudo e dormir até o século que vem, continuo na batalha de te deletar do meu mundo. Mesmo que você seja um grande babaca, nunca se esqueça que você fez parte de mim e da minha vida. Mesmo que amanhã, você esteja com ela, e eu esteja chorando, não se esqueça que eu gostei infinitamente mesmo odiando essa ideia. Mesmo que amanhã tudo evapore, lembre-se que eu te quis, quis muito mas que fui vencida pelo cansaço. Depois de muito tempo batendo em uma porta que nunca quis abrir, eu coloco minha vontade para dormir, e volto para a minha vida, para a minha história, para o meu tempo.
Não é mais uma história de amor, e talvez, seja uma história de como recomeçar e esquecer.
Esquecer para libertar.
Esquecer para seguir.
Esquecer só para existir.

Tchau. 







9 de out. de 2013

Caio F. Abreu: Vera Antoun




" (...) Eu ia te escrever qualquer dia, eu tinha - e tenho - um monte de coisas pra te dizer, aquelas coisas que a gente cala quando está perto porque acha as vibrações do corpo bastam, ou por medo, não sei. Mas as coisas todas, externo-interno, eram muito difíceis e escuras, eu não tinha condições de mostrar ou dar nada a ninguém que não fosse também escuro, compreende? Eu não queria, eu não quero dar trevas, dor, solidão - eu quero dar luz, calor, amparo
(...)
Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não, mas acho que você sempre soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha de falar o que é bonito. Penso que a gente vai se encontrar de novo, e que tudo vai ser mais claro, que não vai haver medo ou coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis de serem compreendidas - se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso ao contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: Eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha - tenho - pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim. (...)"



Caio F.

4 de out. de 2013

Recolha



Eu queria terminar a história gostando de você. Eu queria continuar a seguir minha vida, gostando aos pouquinhos do seu jeito. Porque quando acabar, não vai sobrar nada. Porque quando eu sair por aquela porta, não vai mais haver sentimento algum e isso é tão triste, tão chato, tão repugnante. Aquele cara que me deixava com um buraco do tamanho do universo é o mesmo que agora, me deixa tão repulsiva, tão apreensiva e todas aqueles adjetivos que possa traduzir o tamanho de desprezo. Porque se desse, eu seria sua e pronto, ninguém mais teria que se meter. Só que não dá, na verdade, nunca deu. Me lembro que toda aquela imensidão era maior que a minha própria existência. Me lembro que via teus olhos tão de perto, e eu sentia que seria devorada por aqueles olhos tão vazios que não me contavam nada. Lembro que sentia teu perfume tão perto, e tão intensamente, que acabava me tornando parte de sua fragrância. Lembro de todos os erros e todos os quase acertos. Lembro do vazio, da solidão imensa e profunda que sentia mesmo quando tinha você ao meu lado. Lembro que chorei. Chorei muito. Chorei inúmeras vezes porque não fazia mais sentido. Eu não queria mais e mesmo assim, eu insistia até a última gota. Te obriguei a me dar valor, porém, foi em vão. Foi tempo perdido, foi um tempo triste. Foi, apenas.
Engoli muitos sapos, tenho vontade de cuspir a sinceridade de volta. Engoli mentiras e desejo imensamente vomitar sinceridades em cima de você. Não quero voltar mas também não quero ir. Cheguei ao ponto seco da história e não há mais graça alguma, porque é isso aí, campeão, it's over. A partida acabou, recolha suas cartas e leve seu prêmio. Recolha as cartas e seus lixos. Recolha sua vida que está dentro da minha. Recolha teus sonhos ausentes, tua voz firme e tuas garotinhas. Recolha teu silêncio que está preso em mim. Recolha seu passado, seu presente e seu futuro. Recolha aquele tempo perdido e me devolva o que eu perdi com você. Recolha tudo, e me jogue fora. Recolha e não queira me arrastar contigo. Recolha, isso, me tire de uma vez do seu mundo. Isso, isso mesmo! Recolha, isso. Me dilacere mais um pouquinho, mais um cortezinho naquela lembrança ali. Isso! Diga que não me conhece. Diga que nunca me viu e que sou louca. Diga que não sabe quem eu sou e que o meu perfume nunca foi parar no seu travesseiro.
Faço uma pausa rápida para tentar acompanhar a música que toca. "E para não chorar/ Eu só vou gostar de quem gosta de mim". Eu também, Caetano. Eu não quero mais chorar, e nem mais amar. Não quero ir embora mas também tenho a plena certeza que não quero ir embora. Talvez, quero ir embora, bem aos poucos. Mas talvez, lá no fundo, eu quero ficar.  "A vida é assim/ Eu falo por mim/ Pois eu vivo sem ninguém". De uma vez por todas, eu te peço que me deixe gostando de você, do seu mundo, das suas gírias. Te peço para que não seja tão apelativo. Deixe que os nossos laços sejam cortados naturalmente. Deixe que o fim chegue sozinho, sem aos menos a nossa ajuda, mas peço que por favor, recolha seu mundo do meu porque não há mais motivo para ficar aqui.
Fui e infelizmente, ainda sou capaz de muitas coisas que não acho certo ou que se acho certo, prefiro não entrar muito em detalhes. Tenho medo de encostar nessa feridinha e sangrar. Tenho medo de esbarrar novamente e sangrar até não poder mais. Vejo essas novas pessoas fazendo parte de nossas vidas, e que não há mais conexão física e nem mental. Não há conexão alguma. É como se o meu corpo estivesse fechado novamente e nada se encaixa. Eu não me encaixo mais e não quero me encaixar. Sabe, quero que recolha pela última vez os meus cacos, os meus sonhos, e o meu toque. Quero pela última vez te dizer que por mais que sangrei ao te ver desperdiçar e esmagar meus sonhos, eu gostei intensamente de você. Gostei de todas as formas que alguém pode gostar de outra pessoa. Mas como diria a música "E para começar/Eu só vou gostar de quem gosta de mim..."



 Só vou gostar de quem gosta de mim - Caetano Veloso

3 de out. de 2013

Quando fui embora



Eu fui embora naquela tarde de sábado ensolarado. Fui embora e eu te vi descendo aquele morro, sendo tão estranho, tão elétrico, tão meu. Parei naquela esquina e olhei você correndo, meio tropeçando, meio sendo feliz. É engraçado que depois de anos, eu só consigo me lembrar dessa cena: Eu parada na esquina, te vendo descer a rua para ir embora da cidade. Hoje, completa três anos que a gente não se vê, não se fala, não se sente. Hoje, peguei o dia para dizer que sim, eu te amei muito. Amei sem bloqueios mas com muita neurosa, porque pela primeira vez na minha vida, eu estava apaixonada por alguém que também sentia o mesmo por mim. Amei com muito medo e com muito desespero. Amei sem motivos. Amei, apenas.
Minha vida estava muito complicada quando você chegou. Minha vida estava um caos mas eu tinha você. Por mais difícil que estava, eu tinha você na minha vida, na minha história. Por mais que eu pensasse em morte, suicídio e todas aquelas loucuras, eu tinha você. E você me amava. Você me amava muito. E eu sabia disso.
Lembro de toda a sensação absurda que eu sentia ao te ver. Era uma vontade louca de querer enfiar no meu mundo mas ao mesmo tempo, era uma vontade absurda de sair correndo. Você odiava me ver com esmalte vermelho e eu apenas ria, ria muito. Eu não iria mudar meu esmalte por você, mas eu estava disposta a ser muito mais que uma menina numa tarde ensolarada de sábado. Eu estava disposta a ser muito mais que uma menina sozinha, numa tarde ensolarada, de um sábado, de um agosto-de-Deus. E você também estava disposto a participar da minha vida, da minha confusão e de todo aquele caos interno que eu vivia. Você sempre reclamou que eu nunca havia feito um texto sobre você, mas aqui está, ó. Depois de três anos, aqui está o seu textinho.
Sempre te disse que eu não era o suficiente para você, mas na verdade, eu fui o suficiente para mim e para você, naquele tempo. Fui sua bagunça interna, sua confusão e teus ciúmes. Fui seu sábado, seu domingo. Fui sua pracinha perto daquele ponto de ônibus. Fui seu tudo. Você também foi meu tudo, e acho que sempre será. Sempre acreditei que amor não acaba. Se é amor, logicamente, não acaba. Apenas muda de posição, forma e intensidade. Eu te amo. Sim, mas não quero te ter de volta na minha vida. Eu te amo com a forma de outra pessoa amar a outra sem intensão alguma de tê-la em sua vida. Te amo profundamente e dane-se o resto, porque o amor é meu. Tudo isso é meu.
Quando você soube que eu não queria mais viver, você apenas disse a uma amiga em comum:
- Nossa Clarice Lispector não quer mais viver, e isso é triste.
Eu chorei muito e intensamente. Mas chorei porque você havia me comparado, chorei porque você queria que eu vivesse muito e eu só queria morrer. Chorei muito. Assisti na mesma noite Sex and the City e chorei. Chorei porque tudo havia acontecido muito rápido e eu tinha que terminar. Fui embora do seu mundo. Não para sempre, do mesmo jeito que você nunca foi embora do meu mundo verdadeiramente. Acordei com essa vontade louca para te escrever porque eu sei que você me entende. Você me entende e me lê. Você me entende e sabe que eu vou ser sempre apaixonada pelas balas de gelatina. Eu me lembro dos teus olhos tão próximos, do teu sotaque tão mineiro, das suas marcas. Hoje, é aniversário de quando fui embora. Então, toma esse texto como presente para a sua vida. E saiba que, não fui mulher demais, e nem você foi homem demais, fomos tudo que tínhamos que ser.



Nota: A imagem é de um trecho de Paulo Leminski.




1 de out. de 2013

Caio F. Abreu: Jacqueline Cantore





" (...) Fiquei pensando nessas coisas e lembrei duns versos de Bob Dylan, que me vieram em português — não sei em inglês, nem de que canção seriam: “Se eu quisesse, poderia enlouquecer/sei tantas histórias te rríveis”. Algo assim (...) Mas não vou ceder. Foi a ultima paixão. Paixão é o que dá sentido à vida. E foi a última. Tenho certeza absoluta disso. Agora me tornarei uma pessoa daquelas que se cuidam para não se envolver. Já tenho um passado, tenho tanta história. Meu coração está ardido de meias-solas. Sei um pouco das coisas? Acho que sim. Tive tanta taqui cardia hoje. Estou por aí, agora. Penso nele, sim, penso nele. Mas não vou ceder. Certo, certo: ninguém tem obrigação de satisfazer ao teu desejo, pela simples razão de que você supõe que teu desejo seja absoluto. Foda-se seu desejo, ora. Me dói não ter podido mostrar minha face. Me dói ter passado tanto tempo atento a ele — quando ele nunca ficou atento a mim. E eu passei tanta coisa dura. Rita Lee canta “são coisas da vida”. 
(...) Mas é isso. “Porém, com perfeita paciência/ sigo a te buscar/hei de encontrar.” Quis morrer de novo, engoli outra rejeição — mas estou vivo e, sinto muito, vou continuar. Te quero imensamente. Meu coração bate forte. " 
  

Caio F. 



(Carta de Caio Fernando Abreu a Jacqueline Cantore)


Coisas da vida - Rita diva Lee


30 de set. de 2013

Por que você não arruma namorado? - Fabrício Carpinejar



Você não entende como não começa um relacionamento, como não se apaixona novamente, como não muda de vida.
Reclama da ausência de opções. É bonita, inteligente, divertida.
Minha hipótese é que não abandonou o passado.
Mantém flertes com o ex indiferente, ou continua saindo com sujeito que jamais assumirá o romance.
Raciocina que, enquanto não vem o escolhido, o príncipe, pode se entreter com velhas paixões.
Mas todos pressentem quando uma mulher está enrolada, todos intuem o caso mal resolvido, e não se aproximam.
Não virá ninguém para espantar os corvos e dissolver essa atmosfera pesada de Prometeu.
É trabalho em vão soterrar o precipício. Mulher desinteressada é impossível.
Ninguém ousará quebrar o monopólio de sua dor.
Você cheira a encrenca, cheira fidelidade a um terceiro. Seus ouvidos estão lentos, sua boca paira em distante lugar, seus olhos se distraem seguidamente.
Não tem brilho na pele, porém tensão nos ombros.
Sua respiração é um poço de suspiros.
Vive ansiosa por notícias, por reatos, mensagens. Não presta atenção, não se entrega para as casualidades.
Quem enxerga fantasmas não vê os vivos.
Não dá para começar um novo amor sem abandonar os anteriores. Errada a regra que a gente somente esquece um amor antigo por um novo.
Está com o corpo fechado, costurado, mentindo que já não sofre mais com as cicatrizes.
Espera herança, não sai para trabalhar ternuras.
Mendiga retornos, não cria memória.
Sua nudez não responde ao pedido da curva. Nem balança com a música favorita.
Está tomada do carma, do veneno, do ressentimento.
Pensa que está bem, mas está em luto. Uma mulher em luto não permite arrebatamentos, afasta-se na primeira gentileza que receber, recusa a prosperidade das pálpebras piscando nos bares e restaurantes.
Você nunca vai encontrar seu namoro, seu casamento, sua paz, se não terminar de se arrepender.
É preciso guardar o máximo de ar, ir ao fundo, descer na tristeza e nadar para longe dela.
Não amará outro alguém sem solucionar pendências, sem recusar o homem que não a merece, o homem que não vai embora e tampouco fica.
Não amará outro alguém sem abandonar algumas horas de alívio em motéis.
Não amará outro alguém se não bloquear as recaídas, se insistir em ressuscitar as promessas.
Uma mulher nunca será inteira se mantém romances quebrados.
Nunca estará presente.
Nunca estará aqui.
Entenda, minha amiga, só ama quem está disposta a ser amada.



Publicado no jornal Zero Hora 
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6 
Porto Alegre (RS), 28/04/2013 Edição N° 1741


24 de set. de 2013

Silêncio - Martha Medeiros



Pior do que a voz que cala, é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis, pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades. Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar: "Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock, o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba, é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta, não há emails na caixa de entrada não há recados na secretária eletrônica e mesmo assim, você entende a mensagem

22 de set. de 2013

Não penso




Eu não penso mais em ser sozinha e nem carregar para sempre todas as minhas desilusões dentro do meu peito. Não penso mais em me vingar, nem ser a mulher bem resolvida da história. Não penso em querer ser a mais bonita, a mais fodida, a mais interessante, a mais em mais. Não penso em beber vodka e perder o rumo. Não penso mais em querer salvar o mundo, e nem o dia. Não penso em virar várias doses de tequila e virar uma Amy Winehouse. Não quero mais em trapacear e nem matar meus personagens. Não penso mais andar por aquela ruazinha escura e tão sombria. Não penso mais em te ver, e nem te ter por perto. Não quero mais nada e por não querer mais nada, eu quero tudo. Nunca fui boa em despedir. Nunca soube dizer adeus e nunca tentei ser boa nisso. Sou boa em descobrir cosméticos e até mesmo em criar amores platônicos, mas sou horrível em dizer adeus. Sempre chorei. Sempre vou chorar para me despedir, por mais que eu não queira mais. Por mais que eu não precisasse, nunca consegui dizer adeus e isso só me fez mal.
Tudo que eu queria, naquele tempo, era ser sua. Não sei exatamente ser de ninguém, mas estava disposta a tentar ser algo na sua vida. Não sei, talvez seria uma personagem principal, ou a personagem coadjuvante na história mais sem graça do século - até porque não há sentido escrever sobre ela -
Desisti de esquecer. Eu vou me lembrar de você quando ficar sozinha e pensar em escrever. Vou me lembrar de quando alguém me propor algo tão mesquinho e vulgar. Vou me lembrar de tudo o que você me fez sentir. De toda aquela imensidão. De toda aquele carinho vulgarizado. De todo o silêncio. E de todas as músicas ridículas. Vou me lembrar, porque você agora, faz parte da minha história. Tudo isso é errado e totalmente sem nexo algum. Tudo isso é horrivelmente estranho que não há mais graça, porque aqui, eu entrego os meus pontos e te faço campeão do seu jogo de horror.
Fico sem chão quando te vejo. Perco o ar e a minha gastrite ataca todas às vezes que você faz alguma merda muito fora do controle. E foi aí que eu descobri que estava literalmente envolvida: Minha gastrite nervosa atacou, minha insônia acabou voltando e eu quis mais do que nunca ser mulher o suficiente para a sua vida. Me falta o ar quando te vejo com outra. Me falta a noção do tempo e do espaço quando desisto de ser mulher para o mundo e resolvo ser mulher para a sua vida e para a sua história. Eu poderia muito bem chorar, mas agora, sou controlada. Porque depois de anos, eu consegui ser mulher o suficiente para o mundo e para a minha vida. Depois de ter chorado muito, de ter escrito muito, de ter feito tantos planos em cima de nada, resolvi que estou fora do jogo. Tenho medo de não conseguir mais parar de chorar ou de falar. Tenho zilhões de coisas a dizer sobre você e sobre a sua vida. Tenho trilhões de coisas que podem até não fazer sentindo, porém, eu sinto. Apenas sinto e não há explicação maior para isso. Torço para que não seja tarde demais. Torço para que não evite demais. Torço para não esnobar demais. Eu penso e repenso em tudo e me canso. Penso e repenso na vida, na história, nos excessos e até mesmo nas faltas. Penso e peco. Penso e peço. Penso e desisto mais uma vez de tudo.
Porque eu sei que quando resolver sair dessa história, a magia acaba. Eu não vou mais sentir aquele vácuo dentro do meu estômago. Não vou mais implorar para fazer parte de sua vida. Não vou mais querer ser sua. Não vou mais querer tentar e requentar qualquer contato. É tão triste despedir. E eu quero tanto grudar no seu braço e tentar impedir qualquer despedida do mundo. Eu quero tanto pedir para que não vá embora mesmo que eu tenha percebido que sim, chegou a hora de você ir embora. Vou sentir sua falta. Vou sentir falta da minha gastrite que resolvia aparecer. Vou sentir falta do seu toque e do seu perfume. Vou sentir falta de mim, e da minha ansiedade tão gigante. Vou apenas sentir falta mesmo que eu não deva sentir tanta falta assim. Já que você, não sente a minha falta. Bom, não pelo menos do jeito que eu sinto.
Não penso mais mesmo que seja tão difícil e incontrolável. Não quero mais. E tudo que eu queria, tudo que eu desejaria essa noite é simplesmente ficar.




"O meu desespero é que quando acaba, você fica inteiro e eu fico o pó"

6 de set. de 2013

Disfarces



Queria escrever um texto bonitinho que me entregasse de uma vez por todas. Queria escrever alguma coisa que houvesse conexão para minha vida, para o meu sentimento. Queria muito poder dizer "Ahá, te peguei!", porém, não dá. Enfrentei meus medos e dei nomes a eles. Medos que possuem nome, telefone e endereço. Amores passageiros que possuem telefones, silêncios e toques arrepiantes. Mas nada disso, nada acaba sendo maior que a minha angústia dentro do meu peito. Desde pequena sou mestre em disfarces. Na época do colégio, chiclete era proibido e mesmo assim, eu comprava um saco e levava para dentro da sala de aula, e se a tia me perguntasse o que estava mastigando, simplesmente dizia "é borracha, tia!". Nenhum dos meus amigos riam porque sabiam que era chiclete, porém, minha professora me achou louca e me mandava jogar fora todas às vezes, dizendo que os bichinhos iriam comer meu estômago, até que num belo dia, eu falei que era chiclete e o disfarce acabou.
Me disfarcei de desconhecida fatal que pudesse ser descolada, fria e moderninha. Enfrentei esse personagem durante anos na minha vida, porém, eu sabia que era apenas um personagem. Não deixei ninguém saber e por isso, fiquei tão perdida durante bom tempo. Me disfarcei de moderninha vida louca para que eu pudesse ser sua nas noites, porém, cheguei em casa milhões de vezes pedindo perdão por me sentir tão sozinha, tão impura e tão cruel. Me disfarcei de qualquer coisa que eu pudesse ser sua, mas me cansei durante as entregas e devoluções, cansei das noites, cansei dos silêncios, cansei de tudo aquela confusão que havia criado. Não era só silêncio. Não era só toques. Era eu que estava lá. Era eu e o meu coração que estava lá fazendo tudo que uma doida faria, porém, nada disso foi o suficiente. Sou estregada emocionalmente e isso é apenas um fato da minha vida que todos precisam entender. Sou estragada emocionalmente com uma gastrite nervosa que acaba estragando qualquer disfarce de mulherzinha perigosa. Mas eu não sou mulherzinha e muito menos perigosa.
Continuo enfrentando coisas que nem sei mais o que são realmente. Continuo enfrentando silêncio, angústia e a minha vida. Minha vida teima em me mandar seguir em frente, porém, quero segurar no seu braço e chorar. Quero implorar para que você me impeça de seguir em frente. Quero implorar para que você não faça isso comigo. Eu não mereço, e eu não preciso. Quero implorar mais uma vez para que não acabe com tudo que eu sinto. Pela primeira vez, eu gostei de você, sendo que eu nunca gosto de nada tão real. Pela primeira vez, eu havia me apaixonado por alguém perto, por alguém que realmente pudesse saber que sim, era de verdade. Quero implorar mais uma vez, as escondidas, para que você não seja tão babaca, tão vazio e intolerável. E por último, quero te implorar para que não destrua esse carinho tão absurdo que eu sinto.
A vida segue lá fora. A vida implora uma solução e eu não quero solucionar nada. A vida pede para que eu vá seguir minha vida e eu quero voltar correndo para o meu passado. O mundo implora para fazer seu devido percurso e eu fico aqui, cruzando os braços e vivendo de disfarces e de silêncios.
Todos os dias, eu peço força para desmanchar o meu disfarce. Todos os dias, eu imploro forças para seguir em frente sem dar mais uma olhadinha para trás. Todos os dias, eu te olho e jogo na sua cara tudo o que você deixou de fazer ou que fez excessivamente e que me machucou. Todos os dias, eu imploro. Todos os dias, me canso. Todos os dias, meu disfarce acaba. E você também disfarça. Você precisa disfarçar mais uma vez, como se não disfarçasse todos os dias. Gostei de você. Gostei dos teus cílios. Gostei do teu cabelo. Gostei do teu toque mas não gostei da sua voz. Não gostei da sua vida. E eu não peço mais para conseguir superar, hoje, eu quero que o disfarce acabe.
Um dia, eu te conto. Um dia, te desafio igual me desafiou durante esse tempo. Um dia, talvez. Ou nunca. Ou sempre.


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